segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O Miranda



O Miranda era o chefe dos seguranças do Alcântara e como bom segurança que se preze
o volume da massa cerebral era inversamente proporcional ao volume da massa muscular. Andava sempre de ganga, tinha cara de saloio, cabeça de estúpido sempre com o cabelo rapado e riso de bébé. Era vigarista e mafioso mas no fundo bom coração. Deitava-se com todas as boazonas que aparecessem mas não era o tipo de gajo de fazer um tracinho na parede por cada uma com quem se deitava, também porque muito provavelmente não saberia fazer um tracinho.

Qualquer gaja boa que frequentasse a noite lisboeta, para ser assim denominada, tinha de conhecer o Miranda. Andava sempre com as melhores e mais bem arreadas. Namorava esporádicamente com alguma das meninas do bar; de unhas perfeitamente arranjadas, profissionalmente maquilhadas, de sorrisos branco esmalte e olhares “Sou boa mas não sou para ti”.
Qualquer puta fina que se prezasse já se tinha posto debaixo daquele corpanzil para poder entrar e beber sem pagar.

Óbvio que eu já tinha olhado para aqueles bícepes e pensado de como ficariam bem a levantar-me contra uma parede. Escusado será dizer que via demasiados filmes pornográficos e imaginava aquelas mãos a agarrarem-me nas nádegas e a enterrarem-me o seu membro pelo meu corpo acima. Mas depois pensava que se a sabedoria popular estivesse correcta o tamanho da pila do bicho deveria ser algo para no mínimo esboçar cara feia.

Eu não era mulher para o Miranda. Pelo menos era assim que pensava. Não me maquilhava, não andava arreada, não tinha amigos para fazer entrar sem pagar nem para me gabar a dizer que o conhecia. Não era especialmente boa e na realidade o que mais me interessava era vazar garrafas.

Mas eis que um dia o Miranda olhou para mim e os seu dois únicos neurónios devem ter comunicado e transmitido a mensagem “Aí está uma boa foda”.

E lá por meios que não me lembro, pois provavelmente eu já teria deitado uma de whisky abaixo, o Miranda fez-se ao bife. Eu, claro está, que como boa fodilhona não disse que não. Lá o homem pegou em mim, não sei bem como, visto arrancar-me da pista às vezes ser difícil, e me levou de carro para um local meu desconhecido até ao dia de hoje.

Parou e puxa-me para a parte detrás da carrinha e vai de mostrar o garanhão que possuía entre aquelas coxas musculadas. Eu só não lia revistas por não ter nenhuma à mão. O homem lambia, sugava, beijava, penetrou, entrava, saía tudo com grande precisão e método e com alguns gemidos e inspirações fortes à mistura. Eu pensava no que tinha de fazer no dia seguinte, ir ao sapateiro, pôr o secador avariado a arranjar e estender roupa. Não, realmente não estava nos meus dias e já estava um pouco farta de ter aquele homem em cima, ainda para mais era bastante pesado. Após ter comido alguns tremoços murmurei-lhe “Oh vem-te, vem-te”. Ele como bom cãozinho, desejoso de poder acabar, só não o fazendo porque tinha de mostrar o que valia na cama, veio-se e um sorriso iluminou-se-lhe na cara de bruto que o pobre coitado possuía. Eu dizia para mim mesma “Não, por favor, não me perguntes se gostei”, e assim que acabei de o pensar o bom do rapaz fez-me a pergunta. É que ele ainda não se tinha apercebido. Não conseguia ver as cascas de tremoços pelo chão. “Não me vim”, disse. As suas sobrancelhas arquearam-se, a boca estendeu-se, os olhos chispavam. “O quê? Então porque disses-te para me vir?”. Mas quem é esta gaja que tem o descaramento de foder comigo e não ter o expoente máximo do prazer? Deve ter pensado. Eu continuava com aquela minha cara de bêbada parva que não está nem aí e que acaba de descascar o último tremoço, que põe à boca e mastiga lentamente. O homem tinha sido humilhado, tinha humilhado aquelo ego másculo. Nem me tinha dado ao trabalho de fingir um orgasmo. Era demasiada humilhação para uma só noite. Tinha dado uma foda que não tinha sido uma grande e valente foda. Não se poderia lembrar de mim como aquela que gemeu muito e pediu mais. Vestimo-nos e ele levou-me não sei para onde. Onde quer que eu ficasse ficaria bem, a noite ainda era uma criança, além disso tinha esperanças de dar uma queca que ficasse nos anais da história. Escusado será dizer que comi muitos quilos de tremoços e que nos anais da história não consta qualquer referência a fodas.

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