sexta-feira, 2 de novembro de 2007

No trabalho


Existem mil e uma coisas que tenho de fazer... mas só por agora vou perder cinco minutos a falar da minha tesão. A tesão natural que me acompanha e que me faz perguntar se todos os outros são assim. A contacto ali sentada de chinela de salto alto... será que ela também se roça nas cuecas? O director sentado ao lado dela, será que tem erecções enquanto manuseia o rato? A recepcionista de cu redondinho... esfregará os mamilos de encontro à mesa? E procuro ver nos outros aquilo que me faz suspirar, procuro sinais de excitação, brilhos no olhar, rubores na face. Será que mais alguém se masturba na casa-de-banho? Será que o ambientador é utilizado por outro alguém que não eu para disfarçar o cheiro forte do sexo, da rata? Estas interrogações assaltam-me por vezes.

E é nos autocarros que procuro vê-los deitados, nus, em extâse. É nos autocarros que os visualizo com a boca numa rata peluda, afastando os pelos com os dedos. No dedilhar entre os lábios vaginais. Será que gritam? Será que gemem? Baixinho? Alto? Pedem mais e com força? Dizem que dói e magoa, mas que continue, que se venha, que molhe e se enrole dentro daquela concavidade negra e bela, cheirosa e funda. Será que também elas desejam arrancar aquele pedaço de carne para que ele permaneça? Será que também elas tem a necessidade de se sentirem cheias e preenchidas, como se aquele vazio fosse um poço, um buraco a preencher com vigor? Como se o vazio fosse impossível de ser sentido, doloroso, uma nudez no preenchimento. Será que também elas gostam de lamber os dedos dos pés, chupando como quem lava?

E por vezes apresso-me, tento despachar tudo o que esteja a fazer pois sinto que tenho de me tocar... e quando me toco a luz amarela torna-se embaciada, a casa-de-banho torna-se ampla e minúscula, as paredes encolhem, os azulejos tremem de contra o meu corpo, os ruídos deixam de se fazer sentir, e sinto-me a boiar na água. E quando acabo sinto medo que alguém tivesse ouvido os meus suspiros, que alguém tivesse dado conta do meu arfar, que alguém tivesse sentido as vibrações dos meus dedos no meu clítoris. E quando acabo estou tonta... e no espelho visualizo-me corada, e com água nas mãos lavo a cara e ponho a minha cara mais séria. E no olhar sinto a minha própria cumplicidade, sinto o meu olhar em mim como se o olhar fosse de outrem, e desejo conseguir acarinhar-me da mesma forma, como se eu fosse outra que me acarinhasse. Mas na impossibilidade de me afagar tal como me olho e observo, desmaio os olhos no chão e saio com o mesmo olhar de sempre, de trabalho, de ser mais uma entre tantas, a trabalhar, a agir, a funcionar, a ser igual, a perder-me na igualdade, no aceitável, na banalidade de todos os outros...

E contraio as paredes da vagina, por prazer, por necessidade de sentir algo mais que o stress, que a pressa de acabar, que os telefonemas, os faxes, os mails, as perguntas e respostas, os orçamentos, os trabalhos, as datas, os fornecedores e clientes... Contraio para que sinta que ainda sou gente, gente que sente, gente que sente de forma pessoal e individualizada, gente que sente... que é porque sente, e não que é porque faz e actua, que é porque tem um telemóvel, um cartão, um numero de extensão...

E levanto-me, vou buscar um café, sento-me na sala do café, estico as pernas, fecho os olhos e fantasio, com sexo, forte, duro, em ser usada, trespassada, em pichas e ratas, em corpos nús, em visões mil guardadas na minha cabeça... e páro assim o ciclo do trabalho, do anonimato e da normalidade. Forço-me a conseguir fantasiar de olhos abertos e concentrada consigo fazê-lo, fixo-me num ponto da sala, na esquina da máquina do café e oiço o gemer do homem que me penetra, o sussurro ao ouvido, a humidade dos nossos corpos. E aí permito-me ser a eu que escondo e oculto, a que contrai as paredes da vagina, abre mails excitantes e escreve outros demais... a que possui chibata e chicote em casa, gosta de gatinhar nua, e de possuir o sorriso de menina em pertença. Aí eu sou a eu inteira, a sexual, a menina, a mulher, a desejosa, a doce, a ansiosa...

E na abertura dos olhos pouso a chávena e prossigo desejando poder partilhar todas as visões com alguém...

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